terça-feira, 17 de junho de 2014

Como uma inesperada aliança Irã-EUA pode ajudar o Iraque

Eles foram inimigos desde a Revolução Islâmica, em 1979. Foram inimigos durante os oito anos da guerra entre o Irã e Iraque (1980 – 1980). Foram adversários após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003 e também se enfrentaram por conta do programa nuclear do Irã.

Mas, agora, Washington e Teerã têm um inimigo em comum – e isso vem levando os dois países a conversarem.

Um integrante do governo americano disse à BBC que a equipe de Barack Obama vem considerando negociações diretas com seus colegas iranianos devido à instabilidade no Iraque, especialmente após uma ofensiva militar sunita liderada pelo grupo extremista do ISIS (sigla em inglês do grupo islâmico Estado Islâmico no Iraque e no Levante).

O correspondente da BBC em Washington, Rajini Vaidyanathan, informou que os antigos adversários compartilham os mesmos interesses por enfrentarem a crescente ameaça do ISIS, que capturou cidades iraquianas importantes como Mossul e Tikrit. Por isso, ambos estariam analisando um possível apoio militar ao governo o premiê iraquiano, Nouri Maliki.

Equilíbrio
Negociações diplomáticas ligadas à segurança regional entre Estados Unidos e Irã são raras, mas, segundo o analista diplomático da BBC, Jonathan Marcus, não são totalmente inéditas.

“Já houve contatos importantes entre eles logo após os ataques de 11 de setembro. O Irã era fortemente contra o Talibã e seus aliados jihadistas na Al-Qaeda”, diz Marcus.

“Maliki é um aliado próximo do Irã, mas Teerã está frustrada com o sectarismo xiita do líder iraquiano. Washington o vê como a melhor entre várias opções ruins e tem a esperança de que os iranianos o encorajem Maliki a ser mais inclusivo em sua política.”

Para Marcus, no momento, o equilíbrio entre Washington e Teerã tem mudado dramaticamente desde a queda de Saddam Hussein, quando os EUA estavam numa posição dominante: “Agora provavelmente é Teerã quem vai estar no domínio das cartas.”

Negativa
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, não descartou uma possível cooperação com a Casa Branca. No entanto, a agência de notícias IRN publicou uma entrevista com o vice-ministro iraniano para assuntos árabes e africanos, Amir-Abdollaian, na qual ele negou conversações com os Estados Unidos.

“Não tivemos nenhuma discussão com funcionários do governo americano sobre uma cooperação nesse assunto, porque acreditamos que a população, os militares e as forças armadas iraquianas são mais que capazes de lidar com a crise em seu país”, disse.

Nesta segunda-feira, diplomatas americanos e iranianos devem se reunir em Viena, em uma nova rodada de negociações com a comunidade internacional (EUA, Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia) sobre o programa nuclear iraniano.

Abdollaian insistiu, no entanto, que a reunião se concentrará apenas em temas nucleares.

No entanto, as imagens do que seria a execução massiva de soldados iraquianos por militantes do ISIS e uma possível ampliação das tensões por conta da crueza das fotos, podia obrigar os antigos inimigos a discutir outros assuntos que não os nucleares.

Encontro em Viena
Segundo o site da revista americana The New Yorker, o presidente Barack Obama expressou preocupação com os extremistas sunitas atacando locais sagrados dos xiitas, o ramo do Islã ao qual pertence o governo iraquiano e a grande maioria da população do Irã.

Até o momento, o presidente americano tem rechaçado a possibilidade de voltar a enviar tropas ao país e tem se limitado a enviar um porta-aviões ao Golfo.

A New Yorker também lembra como o Irã se opôs a Washington durante a a guerra com o Iraque, mas lembra também das declarações de funcionários civis e militares do governo americano.

Em 2007, o general David Petraeus, por exemplo, acusava os iranianos de fornecerem armas, treinamento e dinheiro a operações que teriam custado a vida de soldados americanos.

Três anos depois, o então embaixador americano em Bagdá, James Jeffrey, estimava que o Irã tinha sido o responsável pela morte de mil militares dos EUA e por “alguns dos acidente mais horrorosos nos quais americanos foram sequestrados”.

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