Jihadistas do ISIS já controlam todo o Oeste do Iraque
Os combatentes jihadistas no Iraque conquistaram, neste fim-de-semana, mais quatro cidades no Oeste do país, dominando já por completo a região – o que significa também que controlam a rota de acesso à Jordânia e pelo menos um posto de fronteira com a Síria.
As conquistas de Al-Qaim, Rawa, Anah (junto ao rio Eufrates) e Rutka (a cidade mais a oeste, estratégica por estar na estrada para a Jordânia) foram confirmadas pelo Exército, que não ofereceu resistência e procedeu a uma "retirada tática", na explicação do general Qassem Atta, citado pela AFP. "As unidades militares retiraram para se reagruparem”, disse o general.
Testemunhas citadas pela agência de notícias francesa explicaram que, no sábado, os combatentes jihadistas (significa que estão em uma guerra santa) do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS), entraram em Al-Qaim e conquistaram o posto fronteiriço com a Síria. Já no domingo, disseram outras testemunhas, foi a vez de entrarem em Rawa e Anah, na província de Anbar (de maioria sunita, como os combatentes), onde o ISIS já controlava a cidade de Falluja (a 60km de Bagdad, a capital) e partes de Ramadi. Seguiu-se Rutba.
O ISIS, que deu início a uma grande ofensiva de conquista de território no dia 9 de Junho, completou assim o seu avanço na região Oeste, onde já controlava Tikrit, a capital da província de Salahedin, e Mossul, a segunda maior cidade iraquiana e o pólo industrial do país. Dominam também cidades e vilas nos sectores Norte e Centro.
Bagdad é um alvo anunciado, assim como as cidades santas xiitas a sul da capital, Kerbala e Najaf.
Fontes do Exército disseram aos jornalistas que a conquista de Al-Qaim fez 30 mortos entre as tropas governamentais, o que contraria a informação, também oficial, de que os militares se tinham retirado. O Governo avançou também o número de 40 mortos em Tikirt, num raide dos jihadistas, mas testemunhas contactadas pela BBC na zona disseram que as mortes se deveram ao rebentamento de um posto de abastecimento de combustível.
O ISIS é uma organização ligada à Al-Qaeda liderada por Abu Bakr al-Baghdadi, uma figura obscura mas considerada, pelos seus, como um excelente comandante de campo e um ainda melhor estratega militar. Estima-se que tenha dez mil combatentes no Iraque e na Síria. A ele se juntaram, no Iraque, combatentes sunitas, incluindo soldados e chefias militares do tempo de Saddam Hussein e homens de tribos sunitas que acusam o primeiro-ministro xiita, Nouri Maliki, de monopolizar o poder.
Nos próximos dias é esperado em Bagdad o secretário de Estado americano, John Kerry, que estava neste domingo no Egito. Kerry vai ao Iraque pressionar Maliki a formar um executivo mais representativo de todas as comunidades que vivem no Iraque, sendo a posição americana a de que esse passo poderá diluir a tensão entre sunitas e xiitas e retirar apoio ao ISIS.
Este domingo, o Presidente dos Estados Unidos – que perante o rápido progresso dos jihadistas recusou realizar bombardeamentos contra o ISIS, mas prometeu enviar 300 conselheiros militares para o Iraque – disse que grupos como o ISIS podem multiplicar-se nos países da região, nomeadamente na Jordânia. Os EUA devem manter-se vigilantes, disse Barack Obama à estação de televisão CBS, pois o ISIS é uma ameaça a médio e a longo prazo. Mas, prosseguiu, os EUA não podem lidar com o problema sozinhos e deve ser criada uma parceria estratégica regional para reforçar a segurança.
Depois do périplo de Kerry no Médio Oriente, Washington vai "pressionar os países da região com relações diplomáticas com o Iraque a tomarem medidas tão sérias como as que nós estamos a tomar", disse um responsável do Departamento de Estado que pediu o anonimato. "E vamos sublinhar a necessidade de os responsáveis iraquianos acelerarem a formação de um Governo" representativo de todas as facções.
Esta posição foi já criticada no Irã pelo ayatollah Ali Khamenei que acusou o Governo americano de não aceitar os resultados das últimas eleições, ganhas por Maliki, e de tentar manter o Iraque debaixo da sua hegemonia, colocando no poder “homens que só lhe dizem sim”. Num claro sinal de que não pretende abrir mão da influência conquistada em Bagdad nos últimos anos, o Líder Supremo iraniano diz também “rejeitar fortemente” qualquer intervenção militar americana no conflito, mesmo depois de o primeiro-ministro iraquiano, que tem em Teerã o seu principal aliado, ter pedido publicamente a Washington que bombardeie os jihadistas para evitar que avancem sobre Bagdad.
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