Nova Guerra Fria

domingo, 16 de agosto de 2015

RÚSSIA E OTAN: JOGOS DE GUERRA PODEM ACABAR MAL!

Cessar-fogo no Leste da Ucrânia não sai do papel. Exercícios militares indicam que Rússia e OTAN se preparam para um conflito

Missão impossível: respeitar o cessar-fogo no Leste da Ucrânia. As violações aos acordos de Minsk - assinados em Setembro de 2014 e com votos renovados em Fevereiro de 2015 - são diárias, acompanhadas de trocas de acusações entre o Governo de Kiev e os separatistas pró-russos. Tal como a reiterada e desacreditada negação de Moscou quanto ao envolvimento no conflito. As cenas repetiram-se esta semana, mas o enredo ganhou contornos dramáticos: Rússia e OTAN estão afiando as facas para um possível conflito.

O relatório da European Leadership Network (ELN), divulgado na quarta-feira, fez soar os alertas. «A natureza e a escala» dos exercícios militares que têm sido levados a cabo na região indicam que «a Rússia se está se preparando para um conflito com a OTAN e que a OTAN  está se preparando para um possível confronto com a Rússia». Como pano de fundo, a crise na Ucrânia, acelerada pela anexação da Crimeia em Março de 2014, seguida da proclamação da independência dos pró-russos no Leste (e da guerra que lá se trava desde então).

A organização baseada em Londres, que agrega antigos e emergentes líderes políticos, militares e diplomáticos (não só da União Europeia, mas também da Rússia, Ucrânia, Turquia, entre outros países), foca-se em questões de segurança e analisou duas recentes manobras bélicas. Do lado russo, uma mega-operação em Março de 2015, que envolveu 80 mil militares e se estendeu a toda a Federação. Do lado da Aliança Atlântica, quatro exercícios em Junho juntaram 19 Estados-membros e 15 mil operacionais no flanco leste da OTAN

Defesa ou provocação

A ELN sublinha que as operações militares ocorreram em zonas que ambas as facções consideram mais vulneráveis e expostas a uma eventual agressão - e partilham semelhanças estratégicas, como «a rápida mobilização e reafetação de forças em longas distâncias». 

Afirmando que não foi tomada qualquer decisão de avançar para a guerra, o relatório da ELN conclui que «o perfil destes exercícios é um fato e desempenha um papel na manutenção do atual clima de tensões na Europa». 

É precisamente no ‘mau ambiente’ político entre OTAN e Rússia que a dinâmica destes jogos de guerra pode ter um efeito catalisador negativo: o que um lado considera ação defensiva, o outro interpreta como provocação. A agravar uma situação marcada pela desconfiança, junta-se «uma sensação de imprevisibilidade quando os exercícios não são notificados ou anunciados publicamente de antemão, como parece ser o caso com uma série de exercícios russos».

O documento foi tornado público dois dias depois do primeiro-ministro ucraniano ter acusado Moscou de não «demonstrar vontade nem de pôr em prática os acordos de Minsk nem de retirar o seu exército». Arseni Iatseniuk pediu mais pressão internacional - que passa tanto pelas sanções econômicas da UE como pelo apoio militar da OTAN -, enquanto quantificou os ataques de que, só na segunda-feira, as posições ucranianas foram alvo: 95 bombardeios dos pró-russos, 95 violações do cessar-fogo.

Os russos, em negação sobre qualquer apoio logístico ou humano aos rebeldes de Donetsk e Lugansk, emitiram um comunicado: «Pedimos ao lado ucraniano que mostre moderação e que não viole a instauração dos acordos de Minsk com ações irresponsáveis».

Comunicação, entendimento e moderação, que fazem parte das recomendações do relatório da ELN, continuam afastados das mesas de negociações. O abismo entre a Rússia e o Ocidente cavou-se um pouco mais com as revelações desta semana sobre o voo MH17.

Na Ucrânia, peritos holandeses encontraram fragmentos de um míssil anti-aéreo Buk na zona em que o avião da Malaysia Airlines foi abatido em Julho do ano passado, com 298 pessoas a bordo. O sistema de defesa de fabricação russa aponta culpas aos rebeldes pró-russos - e ao fornecimento bélico de Moscou.

Os dados da equipe de investigação liderada por holandeses (nacionalidade com mais vítimas a bordo) são preliminares: não responsabilizam os russos. Estes, noutra posição de força, vetaram há duas semanas no Conselho de Segurança a proposta da Malásia para se criar um tribunal internacional especificamente para o caso do MH17.

FONTE:
http://www.sol.pt/noticia/407208

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