Tensão se eleva nos bastidores e no front. Parlamento ucraniano aprova a entrada de forças estrangeiras em seu território. Poroshenko fala em "Guerra Total" com a Rússia após a escalada da violência na região de Marinka deixaram em torno de 26 mortos
Parlamento da Ucrânia autorizou nesta quinta-feira o desdobramento em seu território de forças estrangeiras para manter a paz e a segurança segundo um mandato da ONU ou da União Europeia (UE).
A lei impede de participar dessas operações de paz os países envolvidos na "agressão militar contra a Ucrânia", em clara referência à Rússia, à qual Kiev acusa de armar as milícias separatistas do leste do país.
Um total de 240 deputados apoiaram a iniciativa legal do partido governista que detalha que o desdobramento de tropas estrangeiras deve corresponder a um pedido expresso por parte ucraniana.
A Constituição ucraniana proíbe expressamente o desdobramento de tropas e bases militares de outros países, por isso que em cada caso deve ser aprovada uma lei.
Os deputados ucranianos também aprovaram em março uma lei que permite o desdobramento de tropas dos Estados Unidos e da Polônia para manobras militares. Instrutores desses países e do Reino Unido operam no oeste do país.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, pretende desdobrar forças de interposição no leste da Ucrânia e na fronteira com a Rússia para a regulação do conflito, ao que se opõem tanto os separatistas como Moscou.
GUERRA TOTAL
A Ucrânia alertou nesta quinta-feira para a ameaça de uma "guerra total" com a Rússia, acusada de apoiar os rebeldes separatistas no leste do país, no dia seguinte a uma escalada da violência que deixou 26 mortos em violentos combates.
A União Europeia, bem como Paris e Berlim, que patrocinaram os frágeis acordos de paz de Minsk 2, expressaram sua preocupação relacionada a uma retomada dos combates no leste do país.
A UE denunciou nesta quinta-feira a escalada dos confrontos no leste do país, estimando que se trata da violação mais grave do cessar-fogo alcançado em fevereiro.
Os confrontos de quarta-feira nas proximidades de Mariinka, cidade sob controle de Kiev, foram os mais violentos desde a tomada pelos rebeldes do enclave ferroviário estratégico de Debaltseve, entre os redutos separatistas de Donetsk e Lugansk, pouco após a entrada em vigor do cessar-fogo em 15 de fevereiro.
"A ameaça de uma retomada de ações militares de grande envergadura de grupos terroristas russos continua sendo gigantesca", declarou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, em seu discurso anual no Parlamento, no qual afirmou que mais de 9.000 soldados russos estão atualmente na Ucrânia.
"Em razão da ameaça permanente de um lançamento pela Rússia de uma guerra total contra a Ucrânia, a defesa de nosso país se tornou uma prioridade", indicou, acrescentando que mais de 50.000 "heróis ucranianos" estão no leste para "defender o país".
Neste contexto, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, considerou nesta quinta-feira que a Rússia é mais agressiva que há uns anos, mas que não constitui uma ameaça imediata para os países da aliança atlântica.
Stoltenberg descreveu uma Rússia muito remilitarizada "que, infelizmente, é mais agressiva que há uns anos" e que não hesita "em recorrer à força militar para mudar as fronteiras na Europa", citando os exemplos de Crimeia, Ucrânia e Geórgia.
Kiev e os países ocidentais acusam a Rússia, que se anexou à península da Crimeia há mais de um ano, de armar os separatistas no leste da Ucrânia e de ter mobilizado suas tropas, o que Moscou nega.
Em um documento publicado na quarta-feira, a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) indicou ter observado o "movimento de um grande número de armas pesadas nos territórios controlados pela República Popular de Donetsk, geralmente a oeste da linha de frente, perto de Mariinka, antes e durante os combates".
A OSCE, cuja missão é observar os acontecimentos no leste da Ucrânia, disse que havia visto oito veículos blindados que se dirigiam a oeste, quatro dos quais eram carros, assim como um caminhão militar transportando uma peça de artilharia de calibre de 122 milímetros e uma coluna de infantaria.
A missão, baseada em Donetsk, informou que havia ouvido cem disparos de artilharia, lançados nos arredores de Donetsk entre as 04h40 e as 04h40 locais de quarta-feira, assim como tiros procedentes de lança-foguetes múltiplos Grad.
A União Europeia fez eco às preocupações, dizendo que "os violentos combates ao redor da localidade de Mariinka, perto de Donetsk, no leste da Ucrânia, constituem a mais grave violação do cessar-fogo (...) desde fevereiro", declarou uma porta-voz da diplomacia do bloco.
Ante o aumento da violência, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, denunciou nesta quinta-feira que o processo de paz no leste da Ucrânia pode "explodir em pedaços" pelas ações de Kiev.
O diplomata declarou à agência oficial Interfax que os acordos de paz de Minsk 2, assinados em 12 de fevereiro, "estão permanentemente ameaçados pelas ações lançadas pelas autoridades de Kiev".
As autoridades ucranianas acusaram os separatistas pró-russos de terem desencadeado na quarta-feira ao amanhecer uma grande ofensiva com mais de dez carros de combate e mil efetivos contra suas posições em Mariinka.
O balanço de mortos chega a 26. Um representante da auto-proclamada República Popular de Donetsk, Eduard Bassurine, disse à AFP que 16 rebeldes e cinco civis foram mortos nas últimas 24 horas. Por sua vez, Yuri Biryukov, conselheiro próximo ao presidente ucraniano, contabilizou cinco soldados mortos em sua página no Facebook.
Esta escalada de violência aumenta os temores de que os acordos de Minsk, que visam acabar com uma crise que levou a um confronto sem precedentes desde a Guerra Fria entre a Rússia e o Ocidente, se quebrem. O conflito no leste já custou mais de 6.400 vidas desde o seu início, em abril de 2014.
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